Apesar de sermos o país com o maior programa público de transplantes, atendemos só cerca de 30% da demanda teórica. Isso está mudando
O número de transplantes de órgãos neste primeiro trimestre aumentou quase 25% em relação ao mesmo período do ano passado. Em 2011, o SUS atingiu o recorde de transplantes no sistema público, realizando mais de 23 mil cirurgias e reduzindo em 23% o número de pacientes da lista de espera. Pela primeira vez, o Brasil chegou ao índice de 11,4 doadores por milhão de habitantes (pmp). Em 2003, esse índice era de apenas 5 pmp.
Esses dados positivos colocam nosso país no patamar de referência mundial, mas temos ainda uma longa jornada a percorrer. É necessário continuar ampliando o número de doadores e adotando medidas e ações para incentivar os hospitais que realizam o procedimento. Em 2011, criamos em 12 estados 87 novos centros habilitados e implantamos 35 novas Organizações de Procura de Órgãos (OPO).
Mesmo com esses progressos, o desenvolvimento do transplante de órgãos ainda constitui um problema de saúde pública de difícil solução. Tem merecido a maior atenção do Ministério da Saúde (MS), uma vez que representa, no Brasil, a única alternativa para 20 mil pacientes/ano portadores de doenças graves que, de outra forma, evoluiriam para óbito em curto período de tempo.
Na década de 1970, várias equipes se dedicaram ao seu desenvolvimento na região centro-sul, atraindo cirurgiões de vários estados que, anos depois, ao voltarem aos seus polos de origem, desenvolveram aí centros análogos àqueles onde tinham se capacitado. Essa dispersão ocorreu principalmente para centros litorâneos, mais desenvolvidos, excluindo 16 estados com 60 milhões de habitantes.
O MS está imbuído em criar um círculo virtuoso que inclua equipes motivadas em todo o Brasil para realizar mais transplantes com melhores resultados que sensibilizem a sociedade em geral e a família de doadores em particular para disponibilizar mais órgãos e aumentar o número de transplantes.
Para atingir esse objetivo, adotou uma estratégia que compatibiliza ações de efeito imediato com outras de resultados a médio e longo prazo. Os valores pagos pelo SUS para captação e transplante foram elevados em até 60%, valorizando a produtividade e a qualidade. Também foi criado um Comitê Estratégico (CE), responsável pelo programa de desenvolvimento de equipes de captação de órgãos e transplante, que vem desenvolvendo extenso projeto de formação em 16 estados, tendo já capacitado 167 profissionais e programado cursos e estágios para mais 961 até 2014.
Compreende-se assim o esforço atual na busca de métodos para aumentar o número de órgãos, independentemente da captação. Resultados animadores têm sido obtidos no campo da medicina regenerativa, que procura recuperar órgãos hoje descartados ou produzi-los aproveitando matrizes que não causem rejeição.
Para preparar equipes para essa nova tecnologia, cuja aplicação clínica está prevista para daqui a 5 anos, o MS, por meio do CE, aprovou a criação de um centro de referência universitário (CIPETRO). Este centro aproximará equipes de transplante de coração, pulmão, fígado e rim a centros de pesquisa em nível celular para acumular uma massa crítica de conhecimento capaz de obter órgãos adicionais.
Além disso, o CE aprovou a criação e o financiamento de uma Rede Nacional de Medicina Regenerativa e Transplante (RENART) que reunirá centros de todo o país para replicar o desenvolvimento obtido no centro de referência.
Vale salientar que os transplantes induzirão o aperfeiçoamento de todos os serviços prestados pelo SUS. Este procedimento exige laboratórios, meios diagnósticos, UTIs, atendimento humanizado na urgência e emergência e sistemas de informação de maior qualidade.
Além disso, como sua margem de erro impune é muito pequena, força todos a se envolver no máximo de suas competências, hábito que induz aperfeiçoamento e progresso.
ALEXANDRE PADILHA, 40, médico, é ministro da Saúde
SILVANO RAIA, 81, é professor emérito da Faculdade de Medicina da USP
Fonte: Folha de S.Paulo
São Paulo, 13 de maio de 2012
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