Em janeiro, médicos brasileiros deverão realizar pela primeira vez no País o transplante multivisceral. Nele, oito órgãos do sistema digestivo podem ser todos transplantados de uma vez só
Monique Oliveira
"Sua doença é incompatível com a vida." Esse foi o susto que o publicitário Renato Consoni, 30 anos, de São Paulo, levou há um ano e meio, quando soube que um tumor de 16 centímetros ocupava parte do seu intestino delgado. A família, porém, não aceitou a sentença. Recorreu aos melhores médicos e encontrou o que parecia ser a última opção: tirar o tumor depois de quimioterapia. Não funcionou. O publicitário perdeu o órgão e a possibilidade de se alimentar normalmente. Ele começou a se alimentar por meio da nutrição parenteral total (os nutrientes são aplicados por cateteres). A nutrição geralmente vem acompanhada de complicações. Com o publicitário, não foi diferente. Logo ele teve infecção generalizada e entrou em coma. Ao sair desse estado, o publicitário descobriu que nos Estados Unidos especialistas orquestram há dez anos o transplante multivisceral, em que os intestinos e outros seis órgãos do sistema digestivo – estômago, baço, pâncreas, rins e fígado – podem ser transplantados todos de uma vez ou em determinadas combinações. A família vendeu o apartamento, pediu empréstimo e pagou US$ 705 mil para que o transplante fosse possível. “Foi uma correria, mas dinheiro é para isso”, diz Consoni.
A partir do ano que vem, o procedimento que salvou a vida de Consoni começará a ser feito no Brasil. Em janeiro, ele será realizado pelo Hospital das Clínicas de São Paulo (HC/SP) e pelo Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Cada cirurgia vai custar R$ 280 mil. No Einstein, os custos entrarão no programa de filantropia do hospital. Já no HC/SP, o governo federal vai pagar R$ 200 mil. O restante será coberto pelo hospital.
A cirurgia é uma das mais audaciosas da medicina. Na sua versão completa, os oito órgãos são retirados do paciente de uma vez só. E os órgãos do doador são implantados também dessa forma, em bloco. Correndo tudo bem, são cerca de 12 horas de operação. E em média 25 profissionais envolvidos.
A principal indicação é quando há a perda das funções intestinais. Sem elas, não há a absorção dos nutrientes necessários ao funcionamento do organismo. O problema é que o transplante do intestino, sozinho, é complicado. “O órgão tem uma carga bacteriana altíssima, o que torna difícil o controle da rejeição”, afirma o médico Luis Carneiro, diretor do Serviço de Transplante e Cirurgia do Fígado do HC/SP. Mas quando transplantado junto com outros órgãos, tem menos chances de ser rejeitado. “O transplante do intestino combinado principalmente com o fígado aumenta a tolerância aos novos órgãos”, diz Ben-Hur Ferraz Neto, coordenador da equipe de transplante de fígado do Hospital Albert Einstein. “A teoria mais aceita é a de que o fígado teria a capacidade de destruir linfócitos que tentam atacar os órgãos doados”, explica Rodrigo Vianna, brasileiro que dirige o programa de transplante visceral na Universidade de Indianápolis (EUA).
O procedimento também é indicado para tumores de crescimento lento, tromboses severas e complicações da cavidade abdominal associadas (quando um quadro de hepatite, por exemplo, leva à insuficiência renal). É o caso do aposentado Sebastião Cavalcante, 67 anos, que perdeu as funções do fígado e da veia porta por complicações da hepatite C. Ele aguarda a chance de fazer o novo transplante no HC/SP. “Não foi possível transplantar só o fígado”, diz. As contra-indicações são insuficiência cardiorrespiratória severa, doenças malignas incuráveis, Aids e edema cerebral.
O publicitário Consoni, que no mês passado comemorou um ano da realização do transplante, está bem. Luta para receber do governo brasileiro o dinheiro investido no transplante. Sua recuperação serve de esperança para Sebastião Cavalcante e outros 600 brasileiros que precisam da cirurgia no País.
A partir do ano que vem, o procedimento que salvou a vida de Consoni começará a ser feito no Brasil. Em janeiro, ele será realizado pelo Hospital das Clínicas de São Paulo (HC/SP) e pelo Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Cada cirurgia vai custar R$ 280 mil. No Einstein, os custos entrarão no programa de filantropia do hospital. Já no HC/SP, o governo federal vai pagar R$ 200 mil. O restante será coberto pelo hospital.
A cirurgia é uma das mais audaciosas da medicina. Na sua versão completa, os oito órgãos são retirados do paciente de uma vez só. E os órgãos do doador são implantados também dessa forma, em bloco. Correndo tudo bem, são cerca de 12 horas de operação. E em média 25 profissionais envolvidos.
A principal indicação é quando há a perda das funções intestinais. Sem elas, não há a absorção dos nutrientes necessários ao funcionamento do organismo. O problema é que o transplante do intestino, sozinho, é complicado. “O órgão tem uma carga bacteriana altíssima, o que torna difícil o controle da rejeição”, afirma o médico Luis Carneiro, diretor do Serviço de Transplante e Cirurgia do Fígado do HC/SP. Mas quando transplantado junto com outros órgãos, tem menos chances de ser rejeitado. “O transplante do intestino combinado principalmente com o fígado aumenta a tolerância aos novos órgãos”, diz Ben-Hur Ferraz Neto, coordenador da equipe de transplante de fígado do Hospital Albert Einstein. “A teoria mais aceita é a de que o fígado teria a capacidade de destruir linfócitos que tentam atacar os órgãos doados”, explica Rodrigo Vianna, brasileiro que dirige o programa de transplante visceral na Universidade de Indianápolis (EUA).
O procedimento também é indicado para tumores de crescimento lento, tromboses severas e complicações da cavidade abdominal associadas (quando um quadro de hepatite, por exemplo, leva à insuficiência renal). É o caso do aposentado Sebastião Cavalcante, 67 anos, que perdeu as funções do fígado e da veia porta por complicações da hepatite C. Ele aguarda a chance de fazer o novo transplante no HC/SP. “Não foi possível transplantar só o fígado”, diz. As contra-indicações são insuficiência cardiorrespiratória severa, doenças malignas incuráveis, Aids e edema cerebral.
O publicitário Consoni, que no mês passado comemorou um ano da realização do transplante, está bem. Luta para receber do governo brasileiro o dinheiro investido no transplante. Sua recuperação serve de esperança para Sebastião Cavalcante e outros 600 brasileiros que precisam da cirurgia no País.
Fonte: Revista Isto É - Edição: 2193
18/11/2011
http://www.istoe.com.br/reportagens/177915_A+CHEGADA+DO+MULTITRANSPLANTE+NO+BRASIL
Nenhum comentário:
Postar um comentário