Após permanecer quatro anos como o estado que contou com o maior número de doadores de órgãos, Santa Catarina perdeu a primeira colocação para São Paulo em 2010. A queda não é expressiva: de 19,8 doadores por milhão de população (pmp) em 2009 para 17,7 em 2010. Mas serve de alerta: é preciso investir mais na profissionalização da área de transplantes para evitar que a taxa reduza ainda mais nos próximos anos.
De acordo com o coordenador da SC Transplantes, Joel de Andrade, o bom desempenho do índice catarinense de 2005 a 2009 foi resultado da oferta de capacitações para os trabalhadores da saúde pública. Em 2010, o processo de doação e captação esfriou. A SC Transplantes é uma gerência da secretaria da Saúde que coordena as ações que envolvem captação e transplante no Estado.
O Hospital Santa Isabel, em Blumenau, é um dos principais captadores de órgãos, mas uma queda drástica no ano passado – de 22 em 2009 para cinco em 2010 – contribuiu para diminuir o índice estadual. A diretora de enfermagem da instituição, Marcia Regina Fidauza, considera a redução uma mostra do “desânimo” dos profissionais, causado pela redução de cursos de capacitação oferecidos pelo governo do Estado.
Outro motivo da defasagem seria a falta de gratificações para os envolvidos com a captação de órgãos. Apenas algumas funções recebem hora-plantão e sobreaviso. O restante não tem nenhum tipo de ganho extra.
– Para termos doadores, precisamos que as famílias autorizem, mas só conseguimos quando elas confiam na equipe de atendimento, que tem de se sentir incentivada e bem treinada – analisa Andrade.
Foi o investimento na profissionalização que ajudou São Paulo a alavancar as doações. Depois que foram criadas as coordenadorias de captações nos hospitais, e os médicos passaram a receber treinamento e gratificações de R$ 4 mil ao mês, os índices de doadores subiram de 12 pmp em 2008 para 16,9 em 2009 e 21,2 em 2010.
Para tentar reverter o quadro, em 2010, a SC Transplantes enviou ao Ministério da Saúde um projeto para criar de três organizações de procura de órgãos, com o objetivo de remunerar os servidores com um valor mínimo de R$ 600. Em dezembro, Santa Catarina recebeu R$ 60 mil como auxílio para o projeto. O dinheiro ainda não foi usado. Para continuar recebendo, o Estado precisa implantar o projeto, o que custaria R$ 140 mil por mês ao governo estadual.
– Como Santa Catarina passa por 120 dias de contenção de despesas, vamos esperar – diz o secretário da Saúde, Dalmo Claro de Oliveira.
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