segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Depoimento emocionante

O depoimento a seguir é de Soledad Garrido S., uma transplantada que passou por muitas dificuldades até que sua operação fosse realizada. Uma verdadeira lição de fé e esperança que nos dá motivação para seguir em frente.

"Esse momento é para falar de alegrias e as tristezas dos últimos dois anos da minha vida.

É difícil recordar aqueles momentos sem ficar profundamente emocionada e agradecer à família que, abnegadamente, deu-me um coração para continuar vivendo.
Aos 19 anos eu fui diagnosticada com hipertrofia miocádica congênita. Mas meu desconforto vem desde que tenho memória. Quando eu era pequena eu mal podia respirar e minhas mãos ficavam roxas.
No entanto, eu vivia normalmente. Me formei como jornalista e cientista política na Universidade Gabriela Mistral. Eu tinha bons amigos, trabalho interessante, podia fazer o que mais gostava, assistir à concertos de todos os tipos de orquestras. Pensei que era feliz e minha vida estava resolvida.

Após 30 anos de idade tudo desmoronou. Em março de 2005 fui de urgência para uma clínica alemã porque tinha uma dor no estômago. Pensei que era algo que tinha feito mal para meu estômago, pois tinha saído de férias. Por isso, quase morri quando os médicos me informaram que meu coração estava seriamente danificado.

O diagnóstico exato foi: Hipertrofia do miocárdio com disfunção diastólica grave, o que causou sérios problemas no pulmão e complicações hepáticas.
Aparentemente, a minha genética se manifestou, como na família de meu pai numerosas tias e primos morreram muito jovens. No entanto, eu sou a primeira transplantada ou melhor, aquela que não teve um colapso ao ficar na fila de espera.
Em maio de 2005 meu nome apareceu na lista de transplantes nacional.
Lembro-me claramente do momento que eu disse que minha única opção era o transplante. Era como se eu tivesse levado uma paulada na cabeça. Congelei e olhei para minha mãe depois de alguns segundos, porque eu não queria chorar. Ela afundou-se em sua cadeira e olhou para mim como nunca antes, com medo e raiva evidente.

Eu disse-lhe para falar com meu pai. Não queria que ele soubesse por médicos.
Ele também estava com o coração doente e eu estava muito preocupada com a reação dele; também disse ao meu irmão que mora na Espanha. Foi tudo muito triste, chorei muito, mas sempre tive confiança que tudo ficaria bem.

Até então, eu pensei que nada mais poderia acontecer, mas estava errada.
Lentamente, comecei a perder a alegria da espera. Primeiro, o meu trabalho, então meus amigos e certamente o mais doloroso, meu namorado, estava com ele à um ano e meio, mas me deixou sem nenhuma consideração. Incrível, mas verdadeiro.

No entanto, amigos incondicionais apareceram, esses que te escutam e estão prontos para tudo. Meus primos eram muito bons, conseguiram filmes, revistas, ou então vinham apenas me ver por um tempo para quer pudéssemos dar risadas. Mas o mais emocionante, foi ser a madrinha de Paulita. Minha prima pediu mesmo eu estando doente, o que me causou grande alegria, pois significava que tinham certeza de que eu cuidaria dessa menina linda por muito tempo.
Em outubro de 2005, apareceu um doador. Três dias antes de meu aniversário, mas o coração falhou e não serviu. No dia seguinte, acordei com uma tremenda desilusão. Fiquei muito irritada, pois teria que continuar esperando.
Passaram-se 11 meses horríveis. Eu não conseguia comer ou dormir, estava muito debilitada. Era terrível me olhar no espelho...meu rosto magro, olhos profundos e negros, meu cabelo caiu e meu fígado estava péssimo.

Nestas circunstâncias, eu voltei para o hospital. Mas desta vez acordei com um novo coração. Minha mãe me disse que tive vários problemas. tive apnéia, convunções, meu pulmões cheios de líquidos, estava com baixa resistência e meu fígado estava muito inchado. Fiquei quase um mês na clínica e saí com marcapassos pelas complicações durante a cirurgia.
Minha recuperação foi lenta, tive que voltar duas vezes para o hospital. Um vez por falha nos marcapassos e outra por um vírus raro. Passei meu aniversário de 32 anos no hospital e em dezembro de 2006, finalmente, eu estava em casa com minha família e meus cachorros que tanto gostava.
Em janeiro estava super bem. Tinha dores nos ossos e nas costas, mas não era nada comparado aos primeiros dias do transplante. Em fevereiro me deixaram nadar e saí de férias para a praia com meus primos. Foi maravilhoso estar lá e correr, escalar montanhas, sem ficar cansada. É quando digo que valeu a pena o sofrimento.
Em maio completo 8 meses de transplante e me sinto melhor do que nunca.
Lembro de tudo o que aconteceu comigo e me sinto triste por algumas coisas.

Minha vida mudou, eu mudei, mas com certeza para melhor.

Viver intensamente...olhando para a frente, sempre para a frente."

Soledad Garrido S.

O depoimento original encontra-se no site:
http://www.trasplante.cl/testimonios/sole_corazon.php

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